Pedrinho, em Novelas Nada Exemplares.
- Edna Nunes

- 11 de abr. de 2024
- 2 min de leitura

Arrumava a minha estante de livros, cuja tarefa seria mais rápida, não fosse eu ficar folheando um, depois outro. Li as lombadas, imaginando qual seria a minha próxima leitura e me seduzindo pela beleza das capas coloridas.
É sempre o mesmo ritual, até que um deles grita meu nome. Vou a ele, como se levada por uma força ou energia gravitacional. Daquela vez, a mais simples das edições, de capa branca e ilustrações peculiares, praticamente, saltou da prateleira para as minhas mãos.
O exemplar me capturou, me obrigou a sentar, meio desajeitada, no braço da poltrona mais próxima e, fisgada, eu o abri.
Só vou dar uma espiadinha na primeira página, pensei.
Mas era “Novelas Nada Exemplares”, do nosso respeitado escritor Dalton Trevisan. Nosso sim, pois ele é brasileiro, o Vampiro, aqui de Curitiba como eu.
Nem é preciso dizer que fui arremessada para dentro da primeira história, densa e tão real que chega a ser cruel pela maneira como maltratou o meu coração.
Em apenas seis páginas, o autor narra em terceira pessoa e nos conta de forma direta e ágil, o drama do menino Pedrinho que se sentia doente.
Quote:
“O menino puxou a saia da mãe e queixou-se da dorzinha de cabeça. Ora, que fosse brincar com o irmão; brincando, a dor passava. Ela já se atrasara para o jantar.”
A queixa de Pedrinho foi ignorada, por falta de cuidado ou de atenção, que chegaram tardiamente, assim como o tênis que ele tanto queria.
Não há qualquer surpresa, estamos preparados para o que está por vir, porém, jamais para sermos tocados pela demonstração da dor e do peso na consciência daqueles pais.
Quote:
“O pai deu-lhe banho, com um parente. O menino permaneceu duro sobre a bacia, não se deixou sentar na água. Depois a mãe vestiu-o, nem era domingo: calça azul, blusa branca, paletó de homenzinho. Não calçou o velho sapato...”
Este livro, publicado há 64 anos, foi considerado o marco inicial na carreira do premiadíssimo autor, que nasceu em Curitiba, no ano de 1925.
Eu estou lendo a 8ª edição, publicada pela Editora Record, em 2009. Sim, deixei a arrumação em segundo plano, mas consegui escolher a próxima leitura: Novelas Nada Exemplares.
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Edna Nunes
11.04.24

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